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"Sou muito feliz de representar a cor da minha pele" - Victor Bernardo fala com o Cutback


VB em Fernando de Noronha. Foto: Alan Rangel

Há alguns anos o estado de São Paulo vem formando excelentes surfistas. Gabriel Medina, Filipe Toledo, Adriano de Souza e vários outros nomes. Essa semana o Cutback entrevista um dos mais promissores atletas de SP: Victor Bernardo. O surfista é local do Guarujá e esbanja talento, força nas batidas e um surf muito progressivo. Victor é um dos poucos surfistas profissionais negros no país, está na estrada há algum tempo e coleciona vitórias em eventos importantes da categoria amadora, além de resultados expressivos no mundial do QS. Segundo relatos da galera local, Victor é um cara muito divertido e de riso fácil. Ao Blog, VB fala um pouco da sua trajetória, de como ser de Sâo Paulo o ajudou na carreira, de racismo e muito mais. Confira! Cutback: Tu tem um surf muito técnico e agressivo. As ondas de São Paulo o ajudaram nessa evolução?

Victor: Morar no estado de São Paulo, mais precisamente ali no Guarujá, facilitou muito e facilita na minha carreira com certeza. São Paulo é onde as grandes empresas estão, onde saíram vários atletas do circuito mundial hoje em dia, o Adriano de Souza, Gabriel, Wiggoly [Dantas] e Jessé. E facilitou muito em termos de voo por ser de onde saem os voos internacionais para as etapas em termos de patrocínio e esse planejamento.

Voando alto de backside. Foto: biggerboat79

Cutback: Você vem de um estado que respira surf e é o centro do esporte, hoje em dia, do Brasil. Isso facilita nos campeonatos, na organização e planejamento da sua carreira?

Victor: Além de ser um estado que respira o surf, como disse: vários atletas saíram daqui, facilita nos voos, as grandes empresas estão em São Paulo, além disso as ondas são muito boas. Posso dizer que temos pouco vento comparado aos outros estados e uma variedade de onda muito grande, desde Maresias a sei lá, uma praia mais tranquila assim de surfar, vamos supor Monduba ali que tem uma onda mais manobrável, tem Paúba... Altas ondas que ajudam muito no treino para se tornar um atleta completo.

Cutback: Você ficou anos na marca gigante do surfwear e, infelizmente, não renovou o contrato. O que você tirou de positivo nesse período sem patrocínio? Foi a maior dificuldade da sua carreira?

Victor: Eu fiquei acho que 11 anos na Hang Loose, desde os meus 9 anos de idade, até meus 18 e nos últimos anos eu fui Billabong e acabou que não renovamos o contrato foram poucos anos nessa empresa, mas tirei muita coisa positiva com certeza. Foram experiências incríveis que tive e sou muito grato por essas marcas terem me apoiado e agora me encontro sem patrocínio principal de bico, mas a chama continua acessa e a vontade de entrar no CT e ser top do circuito fala muito mais alto do que qualquer outra coisa. Minha vontade é muito grande e vou fazer o máximo, nem que eu tenha que trabalhar com algo paralelo ao surf para viabilizar minhas idas ao circuito.

Cutback: A gente recebeu muitas mensagens pedindo uma entrevista com você. Por você ser um excelente surfista e negro, tu é uma referência para muitos pretos. Você tem noção do seu tamanho?

Victor: Esse assunto ainda é bem delicado, acho que hoje em dia, infelizmente, o racismo ainda se encontra entre nós. Já passei por algumas situações que prefiro nem comentar, mas até agradeço aos meus amigos e familiares por terem me mantido no foco e me falarem para não esquentar a cabeça com isso. Aprendi a ser uma pessoa assim também. Infelizmente o racismo continua e sou muito feliz de representar a cor da minha pele nos eventos e mundo a fora e junto com minha bandeira do Brasil. Para mim, eu vejo que nós seres humanos somos todos iguais e que essa diferença racial tem que mudar, é uma coisa que eu acho muito triste e ridícula, por estar rolando isso no mundo ainda, acho que nem deveria ter rolado no passado, mas aconteceu. O que eu mais tento é botar na cabeça das pessoas que somos todos iguais independentes de cor ou até mesmo financeira. Já vi situações bem feias assim, onde pessoas com mais dinheiro trataram pessoas pobres mal e não saberem lidar com a situação, isso é um assunto que o mundo tem que mudar, a cabeça das pessoas tem que mudar e espero que mude.

Estilo na hora do voo. Foto: Alemão Pic

Cutback: Há um planejamento de você estar na elite mundial em alguns anos?

Victor: Eu planejo entrar no circuito todos os anos que eu início o WQS, o mais próximo que eu cheguei foi 39° em 2017, no mesmo ano que eu me lesionei. Acho que a lesão me deixou com a cabeça mais forte e com mais pegada de entrar, mas é isso. O planejamento é o mesmo e seguimos o jogo de me classificar e fazer parte do circuito mundial.

Cutback: Você já caiu em algumas ondas da Região dos Lagos? Cabo Frio, Arraial do Cabo, Saquarema ou Búzios?

Victor: Já surfei sim algumas ondas da Região dos Lagos. Arraial do Cabo e Saquarema esses foram os dois lugares que eu visitei, Saquarema é um lugar incrível, tem Barrinha ali que é uma onde que me apaixonei, toda vez que eu tenho a oportunidade volto. A onde de Itaúna que é uma esquerda, uma onda pesada que ajuda muito a evoluir, tanto é que tivemos grandes nomes saindo de Saquarema. E Arraial do Cabo foi um brasileiro em 2010, se eu não me engano, que eu fui competir, mas foi única vez que eu visitei.

Cutback: O que tem feito no isolamento social? Tem treinado, ficado com a família, estudando...?

Victor: Essa época de pandemia por um lado foi muito ruim, infelizmente o mundo tomou um baque muito grande, foi difícil das pessoas absorverem o que aconteceu e o que tenha acontecido. Mas ao mesmo tempo acho que foi um saldo positivo da galera parar para pensar na vida, tirar do modo automático. A galera hoje usou a pandemia para ficar mais com a família, replanejar a vida e tomar novos rumos, eu não fiz diferente. Usei a pandemia para isso e esse foi o saldo positivo da pandemia. O isolamento no início ali fiquei quatro semanas sem surfar e foi bem difícil para mim que vivo do surf desde pequeno, mas eu tive consciência que foi uma causa mundial e não só para mim. Foram para outras pessoas que eu fiz esse isolamento e depois que liberou o surf eu só tenho surfado e voltado para casa. Na praia ali a gente não fica tão exposto ao vírus. Cutback: Conta um perrengue que você passou em um mar gigante. Victor: Foi na minha primeira temporada para o Havaí, em Haleiwa que pra mim tava gigante. Tinha uns 10 pés e a correnteza de Haleiwa é muito forte, então, tem sempre que ficar remando. Eu remei numa onda menor e não consegui entrar e veio uma sério que sei lá, maior do dia na minha cabeça e quebrou na minha frente e eu furei a onda com medo de estourar o leash e ficar à deriva, então bati a boca na prancha com a pressão da onda e já tomei um susto, não cortou nem nada, meus lábios incharam e tomei mais duas ondas e sai da água, fiquei um pouco lá fora e depois voltei. Foi um choque bem grande, lembro que foi até no dia do meu aniversário em 2010. E eu tinah 13,14 anos e foi bem doideira.

 
 
 

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