Luís Felipe: das ondas de Cabo Frio para a Nova Zelândia
- Lucas D'Assumpção
- 30 de jan. de 2020
- 6 min de leitura

O surf proporciona diversas sensações e objetivos que só o surfista entende. Quando aprende a surfar, o individuo leva o surf para toda a vida, não importa onde more.
Luís Felipe, um dos melhores surfistas que Cabo Frio já produziu, se encantou ao ver os seus primos no esporte e logo em seguida foi influenciado pela sua mãe a pegar onda.
Com um surf power, Luís é um dos melhores amigos de um velho conhecido do Cutback: Pedro Menezes. Atualmente, Felipe está morando na Nova Zelândia, um país que respira surf. Luís Felipe fez parte da equipe do Dado Shaper, rodou a região competindo e vencendo baterias. Observador, ele sempre surfou ao lado de surfistas de alto nível para evoluir cada vez mais.
Luís Felipe conta ao Blog como o surf interferiu na sua mudança de país; fala sobre a falta de investimento no esporte no Brasil e muito mais. Confira!
Cutback: Da aonde veio a sua paixão pelo surf?
Luís Felipe: Cara - a paixão pelo surf começou - quando eu vi uns primos meus surfando, meus primos do Rio morando em Cabo Frio, Leandro Massa e Leonardo Massa. Sempre os vendo surfando e tal, eu pequeno ficava sempre naquela, vendo prancha... na casa da minha avó tinha piscina, aí eu ficava remando na piscina, imaginando quando ia ter a chance de surfar. Minha mãe caminhava na praia e teve uma vez que ela perguntou se eu queria surfar, para eu ir a praia com ela enquanto ela ia caminhar, eu ficava na água lá, aí tinham umas pranchas que meus primos deixavam em Cabo Frio e ficavam com umas pranchas no Rio.

As pranchas que ficavam em Cabo Frio a gente pegava para surfar, tinham outros primos meus também, daí eu comecei, brother. Comecei a surfar com 10 anos de idade, hoje eu tenho 28, 18 anos aí, ta uma estradinha já. Aí ficava surfando ali e tal, comecei a conhecer a galera dali da Passagem [bairro de Cabo Frio], estava sempre ali no Babu [um dos mais antigos shapers da cidade] perturbando os caras, querendo aprender a consertar prancha, ia muito a praia também com aquela galera que morava ali perto da Praça da Bandeira, que era o Pepeu, Pedro Paulo, Ian Carriço, Barrel... galera que já tinha mais influência das antigas. Do pessoal de Cabo Frio, na minha adolescência eu surfava muito com Pepeu, Ian Carriço (que está na Austrália hoje), surfava com Pedro Menezes, Mário André, João Gabriel, essa galera aí que sempre teve um nível de surf bom e sempre puxava. Mas eu ficava ali com Pedro Menezes que tem mais ou menos a minha idade e surfa muito também. Tava sempre puxando o nível.
Cutback: Você atualmente mora na Nova Zelândia. Há alguma semelhança das ondas neozelandesas com as da Região dos Lagos?
Luís Felipe: Po, semelhança de onda da Nova Zelândia com Região dos Lagos, acho que da Costa Leste. Porque aqui a gente consegue surfar tanto na Costa Leste quanto na Costa Oeste. As ondas da Costa Leste são parecidas com algumas ondas da Região dos Lagos, a Praia do Forte, ou pega uns marezinhos ali tipo Peró também, quando bate um terral maneiro lembra um pouco, mas é uma ondinha mais divertida.
Da Costa Oeste é uma onda mais bizarra assim, uma onda um pouco mais forte, não lembra nenhum lugar, não. Porque as praias são muitas de areia preta com o ambiente bem diferente, o mar da Tasmânia. Ali para o Oceano Pacífico tem várias ondinhas bem divertidas.
Cutback: De certa forma o surf o "levou" para morar fora do Brasil?
Luís Felipe: Po, brother, eu fiz um intercâmbio sete anos atrás na Austrália, aí fiquei lá quatro meses e quando voltei para o Brasil, fiquei meio que naquela depressão assim, porque eu na época morava em Niterói, trabalhava no Rio, não surfava mais, só final de semana, aí po... ficava boladão né, fiz esse intercâmbio na Austrália, fiquei com maior vontade de morar lá, aí tive que voltar pra terminar a faculdade, terminei a faculdade já pensando nisso “morar fora, vou morar fora”.
Depois de pouco tempo assim, minha mulher engravidou e eu abandonei os planos, aí nessa última crise que começou no Brasil, eu trabalhava no centro, a empresa que eu trabalhava já diminuindo o tamanho, minha esposa começou a botar pilha para tentar retomar a ideia e tal, aí a gente decidiu. A princípio a gente ia para Austrália, mas as coisas foram encaminhando mais para a Nova Zelândia e tal, até por facilidade de continuar no país e preço também né, aí resolvemos vir pra cá [Nova Zelândia] e deu tudo certo graças a Deus. A gente já está há um ano aqui e tudo certo.

Cutback: Você já competiu alguma vez?
Lús Felipe: Cara, eu competi já. Competia bastante o circuito da Região dos Lagos, de Búzios, tinha circuito Cyclone que sempre tinha etapa, ASCAF [Associação de Surf de Cabo Frio] sempre tinha, na época tinha até ASAC [Associação de Surf de Arraial do Cabo] em Arraial do Cabo, já competi uns campeonatos em Saquarema, não ia para o Rio porque não tinha muita condição. Também não tinha uma pessoa para me auxiliar ali para poder estar na praia comigo. Ficar indo para o Rio assim, minha mãe não gostava muito, ela sempre ficou muito em cima ali até pela fama que o surf tinha. Então, eu corria mais os campeonatos aí pela Região dos Lagos, a época que eu mais corri campeonato assim foi à época que era da Equipe Dado.
O Dado Shaper de Cabo Frio tinha uma equipe, tinha uns caras bons surfando, Clayton Lopes, Jonathan Oliveira também, eu, Marcos Ramos, Carmanho... tinha uma galera que estava sempre correndo os campeonatos locais ali e sempre fazendo final e chegando junto. Então, era uma equipe maneira. A gente já chegou a fazer uns encontros para surfar, mas não era tão frequente, mas quando a gente fazia era muito bom. A gente se encontrava mais nos campeonatos e ficava junto, era uma parada bem maneira, um estava sempre puxando o nível do outro.
E tipo, o Clayton que era o que surfava mais, e mandava uns aéreos e ia puxando muito minha atenção, ta ligado? Porque hoje em dia, eu pegar onda e fazer uns aéreos é muito por conta dele também. Eu sempre o via fazendo isso e fazia muito bem, mano. Você via quando dava uma caída, ele quebrava muito, chamava muita atenção, todos de Cabo Frio, todos os bons assim: Pequeno, João Paulo, Clayton, Jonathan, Matola na época quebravam sempre nos campeonatos, tinha uma galera muito boa de surf, muito boa mesmo.
Cutback: Em sua opinião, o que falta para os talentos locais irem para frente?
Luís Felipe: Acho que talento para ir pra frente não é nem problema local, não. É problema do Brasil mesmo, os caras não tem apoio, não tem incentivo, não tem educação, entendeu? Alguns que tem, mas são poucos. Os que são muito bons ou tem um contato muito bom, uma galera para se comunicar por eles, porque esporte no Brasil é foda, os caras não valorizam, não é só o Surf, são todos os esportes.
Tem muito lugar com muito talento, que você não sabe quem é a pessoa, mas sabe que a pessoa surfa muito, ou joga muita bola, ou faz qualquer outro tipo de esporte muito bem, porque o país mesmo não proporciona um investimento de qualidade para esses atletas, por isso que ninguém vai pra frente, porque é muito difícil tirar do seu bolso ou ter um cara que realmente invista, uma marca...
Na minha época os caras davam 100 reais e com 100 reais não dava para fazer porra nenhuma, dava cota de roupa pra pegar, você ia lá pegava uma bermuda e duas meias. A gente ficava feliz porque colocava o adesivo lá e parecia que a gente estava mais semelhante ao que a gente queria ser, que era o surfista profissional. Mas poxa, na verdade era só uma máscara né cara, às vezes os caras fazem isso na rataria, às vezes os caras também não tem muita noção, ta ligado? Do que tem que ser feito. Acho que falta muita coisa para ser feita no esporte, não só no surf.
Cutback: Em sua opinião, qual a melhor onda da Região dos Lagos?
Luís Felipe: Melhor onda da Região dos Lagos, cara, não sei. Não sei mesmo, tem muita onda boa e na verdade eu nem surfei todas as ondas da região, tem muita onda que eu não surfei, muita onda boa. Então não da para eu responder. Sei que tem muita onda boa, porque já peguei muita onda boa aí, entre as melhores: Praia do Forte, Peró, Brava de Arraial e Monte Alto. Pra mim, essas são as melhores, mas a melhor eu não sei te responder.
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