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Locais: Matheus "Pancho", um dos surfistas mais agressivos nas ondas

Em quase todas as praias do Brasil é possível encontrar aqueles locais que se destacam surfando nas ondas "onde nasceram". O talento e a capacidade de execução das manobras impressionam quem os vê pela primeira vez. Cabo Frio é “crowdiado” (cheio) desses talentos escondidos.

Dando continuidade a série “Locais”, a história deste post será a do surfista Matheus “Pancho Loco” Ferreira, um dos atletas mais agressivos nas ondas da cidade.

Pancho bate tão forte nas ondas que, por muitas vezes, os copinhos (suporte que segura as quilhas) quebraram. E muita força também resulta em muita água para cima, como manda o manual. Matheus começou a surfar em um projeto social do irmão de um dos seus amigos, onde, segundo ele, o surf salvou a vida dele.

O Blog Cutback bateu um papo com o atleta que contou do seu início, das dificuldades no surf e muito mais. Confira!

Cutback: Quando você começou a surfar?

Pancho: Então, comecei a surfar aos nove anos de idade. Comecei a surfar com um bodyboard que é uma prancha menor, uma prancha mais instável, que não tem quilha, não tem bico, uma prancha bem menor e era a prancha do meu irmão mais velho. Eu sempre tive essa coisa de ficar brincando, de ir pra praia, gostava muito de praia e eu via as pessoas surfarem e queria fazer a mesma coisa, queria surfar também, só que não tinha prancha. Mas aí, pegava essa prancha do meu irmão e ia surfar, bodyboard mesmo.

Eu tinha muitos amigos na infância que também iam à praia comigo e um desses era o David, que tem um irmão mais velho com uma escolinha de surf. O David me apresentou o irmão dele que me chamou para eu fazer parte. Hoje tenho 25 anos de idade e estou até hoje surfando, desde os 9 anos de idade e continuei.

Pancho em pé, o segundo da direta para esquerda. Foto: Marcílio

Do bodyboard que eu ficava em pé, passei a surfar com os pranchões para aprender direito, aprender legal a técnica e o Marquinho (irmão de David) foi me dando esse suporte. Como ele via que eu tinha certa facilidade, que eu já ficava em pé no bodyboard, ele viu que tinha a possibilidade de eu aprender e pegar o esporte rápido e ficar em pé numa prancha de bico.


Então, o Marquinho foi essencial para o aprendizado do surf na minha vida, sou muito grato a ele por tudo que ele fez por mim, foi um cara que me abraçou de verdade. Me deu prancha, pagou inscrição de campeonato, treinou parte física e de alongamento. Sempre me dando um toque. Até depois que eu aprendi legal, questão de competição ele estava sempre junto e sempre me dava força, até hoje ele me dá força.

Cutback: Alguém te inspirou no início do surf?

Pancho: No começo mesmo eu não tinha muita noção em questão de conhecer atletas profissionais conhecidos mundialmente, entendeu? Depois que eu fui passar a conhecer os surfistas profissionais que passavam em televisão, matérias de jornal e revista, mas de começo não tive muita inspiração. Depois que eu fui aprender mais um pouco sobre o esporte e comecei a ter mais entendimento, eu tive sim inspirações.

Pancho e Victor Ribas na Vila Nova. Foto: Marcílio

Com certeza me espelhei muito no local aqui de Cabo Frio, o Vitor Ribas, que na época era o melhor brasileiro na liga mundial de surf. Tive uma grande inspiração nele porque muitas vezes o Victor aparecia na escolinha do Marquinho. Então, ele foi inspiração pra mim, com certeza. Tanto em competição como em free surf, porque ele aparecia para surfar de vez em quando na Praia do Forte, com a prancha, vários patrocínios... Quando eu via aquilo me inspirava muito e não só a mim, creio que inspirava muitas outras pessoas a acreditar no surf.

E mais pra frente, claro, fui me aprofundando mais no esporte e fui conhecendo outros surfistas que, a meu ver, agradava muito aos olhos, como o melhor surfista de todos os tempos Kelly Slater, que eu acho que todo mundo tem ele como inspiração. E não só ele como os brasileiros, Gabriel Medina, Heitor Alves, Adriano de Souza, e o Dane Reynolds.

Cutback: Qual a maior dificuldade que você enfrentou em todo o seu tempo de surf?

Pancho: Poxa, tive várias dificuldades. A primeira foi a questão financeira, a questão de ter uma prancha, que eu era criança e minha mãe não gostava muito, ela tinha medo de eu me afogar. Então, eu aprendi que a primeira dificuldade era ter uma prancha, não era nem ter dinheiro, era ter uma prancha, ter alguém que me desse uma prancha pra surfar.

A segunda dificuldade foi a família. Minha mãe sempre foi muito preocupada. Até por eu ir surfar escondido. Eu gosto muito do esporte e eu ia surfar escondido, até em dia nublado, chovendo, então ela não gostava que eu fosse, mas geralmente nessas épocas, nessas condições, nesse tipo de clima, o mar sempre está bom. Acabava que eu ia escondido e quando voltava minha mãe queria me bater, entendeu? Aí essa foi outra dificuldade.

Aí veio a questão do medo de se afogar e você toma muito caldo, caixote, cai muito da onda e no começo os surfistas têm muito dessa coisa de "ah aquela onda é muito grande, vou me afogar", "ah essas ondas estão muito grandes hoje" e esse era meu medo. Essas coisas que eu falei foram as dificuldades que eu tive, entendeu? Até eu perder o medo, de começar a entrar em ondas maiores, sacou? As dificuldades continuando... Questão de aprender certas manobras, que eram muito arriscadas, às vezes tecava a prancha ou trincava a prancha, então caía de mau jeito na prancha.

E olhando o lado da competição, tinha muitas dificuldades financeiras, eu não tinha dinheiro, minha mãe não me apoiava. Ela até queria que eu parasse de ir e eu não tinha pessoas do meu lado que acreditassem em mim. Apesar de muitas pessoas falarem que eu tinha muito talento e tinha o dom, mas eu sempre tive essa dificuldade financeira. Até para questão de equipamento, não só pra competição, mas de equipamento também.


Cutback: Quando você começou a competir?

Pancho: Na verdade, eu comecei a competir não muito tarde, na verdade era bem inconstante nas competições, eu comecei a surfar aos 9 anos e cheguei a participar de uns campeonatos aqui pela região que era o ASCAF [Associação de Surf de Cabo Frio], que hoje em dia é CSC [Cabo Frio Surf Clube]. Na verdade competi muito pouco, tinha muito pouco apoio, então competia muito pouco, quase nada. Campeonatos federados não tinha resultado no ASCAF da época, fiquei em quarto lugar, acho que era na categoria, não sei se foi iniciante ou mirim, na época eu devia ter uns não sei se era 10 para 15 anos. Ta entre essa faixa de idade, mas nunca tive muito apoio e tive outro resultado em Campos, Farol São Tomé. Fiquei em 2°, esses foram meus únicos e melhores resultados em todo meu tempo de competição.

O resto dos campeonatos que eu perdi, passava uma bateria e perdia em seguida. Competia muito campeonato que não era federado, que não marcavam pontos. Competi uma vez em Porto do Açu, acho que foi em Grussaí, um campeonato de alto nível, atletas de vários estados, passei uma bateria e perdi.

E competi o Top Surf Pro que é o estadual/brasileiro que foi aqui na Praia do Forte, no ano passado ou retrasado, e só foi um teste mesmo, até porque a inscrição é muito cara para eu poder pagar.

Cutback: Em sua opinião, o que falta para os talentos locais irem para frente?

Pancho: Com certeza a principal causa dos surfistas não se destacarem tanto é a questão financeira. Os empresários estarem ajudando, os patrocinadores, a falta de patrocínio, a falta de apoio, a falta de campeonato na Região dos Lagos acho que isso afeta muito. A falta de interesse da Prefeitura de estar investindo tanto no esporte como deveria assim , já que não tem tanto investimento.

Agora depois de uns anos que foi aparecer um pessoal se movendo a favor do surf, então ta relacionada a questão financeira e um pouco também do atleta, dele estar se atirando mais, procurando ajuda, procurando surfar em outros lugares diferentes para aprimorar o surf, fora isso a gente tem talento em Cabo Frio e na região.

E tem a questão da confiança, da pessoa não querer investir numa coisa que não dê retorno para e também por certos surfistas não apresentarem uma constância em campeonatos. Até porque você vê muito hoje em dia as marcas de surf wear, os próprios empresários pegam mais as pessoas que já estão se destacando.

Não querem pegar a pessoa que está embaixo para ir aprimorando ela, para ela ir treinando e evoluindo. Já quer pegar a pessoa que já esteja lá em cima, já. O caso do Gabriel Medina que tem vários patrocínios, daqui a pouco nem cabe mais patrocínio na prancha de tanto que tem, porque todas as marcas querem pegar ele, porque ele é o atual campeão do mundo e está sempre tendo muito resultado. Aí quem ta querendo entrar agora no esporte ou já ta um tempo e não consegue ta tendo muita essa dificuldade.

Cutback: Qual a melhor onda da Região dos Lagos?

Pancho: Eu já surfei em muitos lugares, dentro do meu possível. Já surfei na Praia de Itamambuca, em Ubatuba – SP; já surfei na Praia Vermelha do Norte, que é em São Paulo também; surfei na Praia Grande, em Arraial do Cabo; já surfei em Figueira; já surfei na Praia do Foguete, em Cabo Frio; já surfei em Ilha Grande - RJ, Ilha do Aventureiro, Praia Brava de Cabo Frio, já surfei na Ilha do Pontal; mas a Praia do Forte, sem dúvidas, apesar de eu ser local, é a onda que mais me agradou, porque é uma onda assim: não tão forte nem tão fraca. E é uma onda que quebra lá fora e vem esfarelando, com uma formação boa que possibilita o surfista de executar várias manobras ao mesmo tempo, desde uma batida até um aéreo.

Uma onda muito boa pra aprender e aprimorar o surf. Com certeza a Praia do Forte é a melhor onda pra qualquer surfista, foi a onda que mais me agradou. Uma onda que abre muito e é muito longa. Tiveram ondas muito parecidas como as de Ubatuba-SP que, quando eu fiz uma viagem para lá, a onda é muito parecida com a da Praia do Forte. A Praia do Forte com certeza foi a melhor onda que eu já surfei, com certeza... foi a melhor onda.

 
 
 

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