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Jacqueline Silva, sobre mulheres no circuito mundial: "Vamos igualar o masculino"

Na última temporada foram 13 brasileiros: 11 homens e 2 mulheres.

Jacqueline jogando muita água. Foto: Divulgação

Recentemente o Blog Cutback divulgou em sua page no Instagram um gráfico mostrando os vencedores brasileiros de etapas do mundial. No gráfico mostra que as surfistas mulheres ganharam mais etapas que muitos homens. A entrevistada de hoje, a multicampeã Jacqueline Silva, conquistou 2 etapas do circuito mundial. A catarinense levantou o caneco no Billabong Pro, Honolua, em 2002 e o Roxy Pro, Gold Coast, em 2004. Jacqueline teve o melhor resultado no tour em 2002, quando ficou em 2° lugar no ranking. Além de ser bicampeã do mundial do WQS. Uma das melhores surfistas da história do país, Jacqueline conversou com a equipe do Cutback e o papo ficou animal. Confira! Cutback: Você já caiu em algumas ondas da Região dos Lagos? Cabo Frio, Arraial do Cabo, Saquarema ou Búzios?

Jacqueline: Já surfei, sim. Em Cabo Frio há muitos anos atrás, quando ainda competia o circuito amador brasileiro, isso foi em 1992 se não me engano. A etapa era para rolar em Saquarema na Praia da Vila e estava muito grande o mar. Aquele Saquarema mesmo: “storm”; com 10, 12 pés de onda, aí eles transferiram para Cabo Frio. Aí o campeonato aconteceu lá um ou dois dias. Quando o mar baixou ele voltou para Saquarema. Também já cai em Saquarema, em Itaúna, ali eu já participei de vários campeonatos.

Cutback: Se sim, qual a melhor onda da localidade? Se não surfou, gostaria de cair em algumas das ondas daqui?

Jacqueline: Então, eu só tive a oportunidade de surfar Cabo Frio e Itaúna ali. E com certeza assim como eu já frequentei muito mais a praia de Saquarema da região, ali é a onda com mais “power” , uma onda talvez mais consistente. Embora eu já tenha ouvido falar que em outros picos aí rolam altas ondas, como eu não tive a oportunidade de conhecer e frequentei mais a praia de Saquarema, eu diria que é uma das melhores para mim, em termos de qualidade e power.

Um tubaço para direita da Jac. Foto: Divulgação

Cutback: Você foi uma das atletas que, com muita dificuldade, abriu as portas para o surf feminino do Brasil. Você reconhece a sua importância?

Jacqueline: É, realmente no tempo que eu comecei a pegar onda foram uns tempos bem difíceis sim. Não tinham muitas mulheres, não tinha muito incentivo, ainda assim eu tive o apoio da minha família que foi fundamental. Também conheci o Bira Schauffert, ele que foi a pessoa que me deu a primeira prancha, que me colocou no primeiro evento, que incluiu a categoria surf feminino no circuito catarinense(FecaSurf) e depois ele que virou meu empresário e conseguiu meus primeiros patrocinadores, que me possibilitaram a seguir carreira profissional e mundial. Então, realmente foram tempos assim, com pouco incentivo, mas eu com certeza não só reconheço como espero que as pessoas reconheçam toda história e o legado que deixei na história do surf feminino. Eu tenho muito orgulho disso, de ter feito história e conquistado títulos importantes para o Brasil, para minha carreira e ter saído de um lugar tão pequeno aqui que é a Barra da Lagoa, em Florianópolis, e ter desbravado ai o mundo. Fico bem feliz por tudo que conquistei e o reconhecimento ele veio com certeza, enquanto eu era competidora e estava no cenário do surf competição, aí eu fui reconhecida pelo meu trabalho, sim.

Cutback: Como você vê o cenário do surf feminino do Brasil? Já foi melhor, tem muito o que melhorar?

Jacqueline: Ah então, muito tempo se passou desde a época que comecei a competir para agora. Eu, para ser bem sincera, penso que muita coisa poderia ter mudado no cenário do surf feminino brasileiro né, ainda acho que falta incentivo, falta apoio, falta aquelas marcas investidoras acreditar mais nas meninas e no potencial delas, a gente está numa fase bem difícil para o surf feminino brasileiro. A gente quase não tem mais eventos, são poucas meninas que tem um apoio para correr as etapas do circuito mundial.

Isso se deve a falta do olhar de um empresário, que acredita naquela menina desde cedo, que invista nela, na carreira dela como aconteceu comigo. No início conheci o Bira, foi um cara que me viu acreditou no meu surf. Então acho que falta isso hoje, mas principalmente a falta de apoio, os campeonatos que são a base para lançar as meninas aí para fora, a gente não está tendo isso, um circuito forte como a gente já teve. Alguns anos atrás tínhamos o Super Surf, o Brasil Tour como isso acabou ficou comprometendo o surgimento de novas atletas brasileiras.

Toda a concentração em um tubaço para esquerda. Foto: Divulgação

Cutback: Você já sofreu algum preconceito dentro d'água, nas competições ou em qualquer outro ambiente por ser atleta de surf?

Jacqueline: Em relação ao preconceito, eu tive a felicidade de nunca ter vivido isso, sabe? O ambiente onde eu comecei a pegar onda aqui na Barra da Lagoa sempre foi muito bacana. Eu surfava entre amigos, e as pessoas sempre me apoiavam, admiravam. Aquela coisa de quando eu pegava onda ficavam olhando. Então, nunca sofri graças a Deus. Claro que na competição existe uma rivalidade, já tive baterias da menina puxar minha cordinha, jogar água em mim, me xingar também. Isso no circuito mundial.

Mas preconceito por parte de homem, nossa... na verdade só teve uma vez a, duas... sei lá, que os caras me rabearam e ainda acharam que estavam no direito de me rabear. Acabei que consegui contornar a situação, tinham mais pessoas na água, amigos que compraram a briga. Mas fora isso, foram mais de 30 anos de carreira e eu sempre fui bem vista e bem respeitada toda vez que eu entrava no mar ou na competição.

Cutback: Como está sendo esse período de isolamento social? Está ficando mais em casa, trabalhando....? Jacqueline: Então, esse período agora de isolamento foi uma coisa que pegou todo mundo de surpresa, acho que nunca passou pela nossa cabeça que estaríamos passando um momento tão difícil desse, aquele momento inicial da quarentena de ficar dentro de casa. Eu sou uma pessoa bem disciplinada, então acabei seguindo as regras de quem estava ditando. Fiquei realmente dentro de casa, sabe? Fiquei 33,34 dias sem sair de casa, as saídas que eu dava eram essenciais somente para ir ao mercado. Eu moro a 150 metros da praia e não fui olhar o mar um dia. Confesso que foi bem difícil, eu moro sozinha e meus pais moram bem perto da minha casa, então eu costumava ir na casa deles todos os dias e como eles são do grupo de risco acabei deixando de frequentar a casa deles e acabei ficando na minha casa sozinha mesmo. Tive crise de ansiedade, tive que procurar um médico, mas graças a Deus quando eles liberaram aqui a prática de surf de novo e as caminhadas na praia, a frequentar a praia, agora eu já estou bem melhor. Mas o surf, sinceramente, eu já não tenho surfado quase nada. Eu sempre gostei de pescar na verdade e aqui a gente tem a pesca da taínha que está acontecendo nesse momento, que fecham várias praias da Ilha e Barra onde eu moro. Surf e aulas estão fechadas, então acabei que eu parei de dar aula, de surfar. Meu irmão é vigia, ele é olheiro da pesca da taínha e ele fica na praia o dia inteiro e acabou que eu estou com ele na praia o dia inteiro. Tem meus outros amigos que são pescadores, que eu conheço que surfam também. Meus dias têm sido assim, sabe? Na praia com minha tarrafa, pescando e nos últimos 3 meses surfei 3 ou 4 vezes só. Mas, acho que é uma fase. Eu sou uma pessoa que sinto bastante frio, eu nasci aqui no sul num lugar frio, mas eu sofro bastante com frio, principalmente pra surfar. Então como agora a gente está entrando no inverno aí e tem essa restrição da pesca da tainha que não pode surfar em várias praias. Aí acabou que estou mais na pesca do que no surf né. Mas, isso aí é uma fase né, daqui a pouco eu volto ai com tudo ao surf.

Cutback: A gente vê uma nova geração muito boa de meninas na modalidade. Você acredita que teremos uma campeão do mundo em pouco tempo?

Jacqueline: Então, em relação a gente ter uma menina surfista campeã. Cara, acho que isso vai levar um tempo ainda, sabe? Como a gente está tendo poucos eventos, fica difícil tu ver, acompanhar e tu saber de nomes, quem que está vindo. Eu acompanho mais com esse negócio das redes sociais, a gente acaba seguindo bastante pessoas e a gente acaba conhecendo a história e o surf de cada uma. Mas eu acho que a nossa nova geração, se comparada a geração das meninas da Califórnia, da Austrália, do Havaí, eu acho que vem uma geração muito mais forte. Isso fica fácil de comparar porque eu sigo várias meninas entre 10 e 15 anos brasileiras, australianas, americanas, havaianas e eu percebo que o nível de surf está muito mais alto dessas meninas de fora, entendeu? A gente tem claro algumas meninas até daqui de Santa Catarina que são muito boas, que são meninas ai entre 10 e 15 anos. Só que faltam campeonatos e agora essa pandemia veio para dificultar, que acabou parando tudo, as meninas continuam treinando e tudo, mas pararam a competição também. Tudo bem que isso foi a nível mundial, está todo mundo parado em termos de competição, mas eu ainda acho que a gente vai ter que esperar um pouquinho até a gente tem uma campeã mundial. A gente tem ainda Silvana Lima que está competindo o circuito mundial. Mas as meninas da nova geração até começar a correr o WQS, se classificar e estar dentro da elite, acho que isso vai levar um tempo ainda.

Vraaaau. Foto: Divulgação

Cutback: Deixe um recado para as meninas e para todos os amantes do surf. Jacqueline: Cara, o que eu diria para as meninas de hoje é que não desistam dos seus sonhos, se a menina gosta de surf, se isso é aquilo que ela quer, se dedique. Eu tive a felicidade de ter o apoio da minha família e outras pessoas envolvidas também, acho que isso ajuda muito e hoje a gente vê que o surf já é tratado com outros olhos. As famílias acompanham os atletas, os campeonatos, eles apoiam. Então acho que mudou bastante esse cenário. O recado que eu deixo é que o mais importante de tudo é treinar, se dedicar. Toda vez ir treinar com foco de melhorar, de aperfeiçoar as manobras, aperfeiçoar o repertório, entendeu? Se desafiar também, em mares pequenos e mares maiores. É dedicação, surfar todo dia, uma, duas, três vezes ao dia, como já foi comigo e é isso. E a gente espera que futuramente tenha mais atletas brasileiros representando nosso Brasil. Vamos igualar esse número aí, o masculino já tem bastantes atletas há muito tempo, só falta a gente chegar junto no feminino aí.

 
 
 

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