"Itaúna é uma das melhores ondas do Brasil" - Teco Padaratz fala com o Cutback
- Lucas D'Assumpção
- 27 de mai. de 2020
- 5 min de leitura

É meio que unânime dizer que Saquarema, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro, tem as melhores ondas do Brasil. Falar "Itaúna" e "melhor onda do Brasil" virou uma redundância. Mas dessa vez quem falou da cidade e suas ondas foi um dos maiores nomes do surf no país: Flávio Teco Padaratz ou apenas Teco Padaratz.
Teco é da época em que os surfistas começaram a se tornar atleta, fazer parte de uma equipe e levar o esporte como profissão. No início dos anos 90 o surfista de Santa Catarina já estava no circuito mundial e levantou canecos importantes no tour. O surfista é bicampeão mundial do WQS e, hoje em dia, faz parte da banda 5/11, onde é vocalista.
Ele começou a carreira de surfista na cidade de Balneário Camboriú, onde morou por alguns anos antes de se mudar para Florianópolis, onde mora atualmente. Teco conversou com o Blog Cutback sobre a sua importância para o cenário atual da modalidade, sua vivência no esporte e sobre as ondas da Região dos Lagos. Confira! Cutback: Você já caiu em algumas ondas da Região dos Lagos? Cabo Frio, Arraido do Cabo, Saquarema ou Búzios?
Teco: Eu já surfei na região de Búzios e na região de Saquarema, só nesses dois lugares da Região dos Lagos. Como um todo, nunca fui a Cabo Frio e tal. Com certeza a onda que eu mais gostei foi a de Itaúna, eu acho que essa onda é, talvez, uma das melhores do Brasil inteiro, não só daí da região.

Cutback: Você foi um dos caras que abriu as portas para o surf do Brasil. Se temos campeões do mundo, você tem uma parcela importante nisso. Você reconhece a sua importância?
Teco: Sim, eu reconheço. O papel que não só eu, como toda minha geração exerceu no cenário do surf brasileiro e mundial. Fomos nós que praticamente abrimos as portas e quando a gente fala isso, a gente se refere ao surf passar a ser respeitado como esporte, como esporte profissional, onde atletas se dedicam integralmente àquilo, não só dentro d’agua. Mas com preparações de vários tipos, e eu acho que passou um modelo de atleta que é seguido até hoje. Onde você tem que se preparar fisicamente, mentalmente, preparar sua postura política dentro do esporte, ter seu compromisso com a imprensa, acho que isso tudo a gente pôde passar como um modelo pra essas novas gerações e convencer a sociedade que o surf poderia ser respeitado dessa forma.
Cutback: O seu estilo, na minha opinião, é um dos mais bonitos do mundo. Vi em alguma entrevista que você se inspirou nos movimentos das mãos de alguns atletas no passado. Isso realmente moldou o seu jeito de surfar?
Teco: Bom, é muito engraçado essa pergunta, porque ela serve como duplo sentido. Uma coisa que eu faço é surfar com os dedos, com as mãos. Eu surfo o tempo todo no meu cotidiano com os dedos e ali eu crio as manobras, os movimentos que eu vou precisar fazer dentro d’agua numa próxima onda. Então, eu me inspiro muito no meu surf com os dedos ou com uma caneta na mão ou alguma coisa que simbolize uma prancha, eu faço essa mentalização desde criança. Mas, também, ao longo da minha carreira vi que certos surfistas posicionam a mão de certas formas. O Mark Occhilupo tem a mão sempre aberta com o dedão bem aberto da mão esquerda, estendido. Eu surfava com o dedão fechado na palma da mão e com o resto da mão aberta, uma coisa instintiva. Porém, na posição do braço, por exemplo, tive que me esquivar daquela postura de mão que o Derek Ho fazia e estava puxando aquilo. E aí o Avelino [Bastos] veio interferir na época de competição, falando: “olha você tem que se cuidar com sua posição de mão, você está ficando muito parecido com Derek Ho, você tem que ter a tua posição, cria teu jeito de surfar”, porque isso faz parte do estilo, o estilo do surfista é como ele harmoniza todos os movimentos dele em cima da prancha.

Cutback: Ter essa vivência toda no surf, nas competições e viagens ajudou nos projetos das pranchas feitas por você?
Teco: Ah, com toda certeza. Toda experiência que eu tive dentro d’agua pilotando designs de pranchas para chegar ao melhor design possível ao longo da minha carreira com Avelino Bastos da Tropical Brasil me deu muita segurança em poder desenhar minha própria prancha. E essa oportunidade quem me deu foi a Powerlight durante esses últimos anos e eu desenvolvi alguns modelos com eles, foi muito bom e eu gosto muito deles. São pranchas que eu criei dentro da minha cabeça, da minha inspiração. Hoje eu voltei a surfar com a Tropical Brasil por outro motivo, um motivo mais comercial, uma mudança de negócios mesmo. Mas estou me divertindo em andar no design do Avelino Bastos novamente, ele é um mestre do design, agora posso dizer de mão de cheia. Porque eu desenhei pranchas e vi que ele tem realmente um toque de curva de fundo, de fundo de prancha, de caimento de borda, de refinamento de outline, realmente ele estudou profundamente os designs e, cara, é divertido demais surfar em uma Tropical Brasil e é isso que estou sentindo hoje.
Cutback: Como está sendo a quarentena? Está tirando os dias para estudar, ficar com a família ou treinar?
Teco: Bom, nessa quarentena a gente tem que se reinventar e estou trabalhando bastante. Mas estou surfando muito e quando não estou surfando, estou usando bastante as pranchas da Eco B, fazendo aquela prancha de equilíbrio que a gente usa para aprimorar certos movimentos dentro d’agua e está ótimo. Olha, está fazendo uma diferença para o meu surf, incrível. Assim, então eu estou desenvolvendo bastante essa parte, gastando um tempo também para aprimorar meu livro, é... estou lançando um livro em breve e a gente está na etapa final, então me concentrei bastante nisso e surfando, como eu falei. Surfar a gente alivia a cabeça dos problemas, recarrega as energias e volta bem, então estou aproveitando para surfar bastante, estou com altas pranchas da Tropical Brasil agora, modelos novos que estão fazendo minha alegria.
Cutback: Deixa uma mensagem pra galera do surf.
Teco: Olha, eu gostaria de deixar uma mensagem de paz, de alegria, de saúde, de disposição m ajudar, em ajudar o próximo, em se ajudar, evoluir. Eu acho que a gente tem que olhar um pouco mais para dentro de nós, não com o ego, mas com um certo julgamento, se vamos julgar alguém, vamos julgar a nós mesmos, julgar nossa própria conduta diante disso tudo e que a gente possa encontrar clareza dentro dessa auto observação. Se você gostaria de experimentar isso, comece sentando numa posição confortável três vezes ao dia por 5 minutos, fechando os olhos e prestando atenção única e exclusivamente no ar que entra, no ar que sai do seu nariz ou da sua boca e no seu pulmão e vê o quanto ele está ansioso, o quanto ele está calmo ou o quanto ele está revoltado, ou quanto ele está pacífico e observe: se sua vida fosse um filme, que personagem você seria? Escolha bem esse personagem para você não acabar caindo nos personagens clichês que a sociedade lhe oferece e sim naquele que você gostaria que fosse. Essa é a mensagem do Teco Padaratz para o Blog Cutback, aloooha!
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