Conheça Petterson Thomaz, o idealizador do Campeonato Brasileiro de Aéreos (CBA)
- Lucas D'Assumpção
- 12 de ago. de 2020
- 10 min de leitura

Durante a pandemia muitas coisas tiveram que ser reinventadas. O surf competição também precisou se adequar nesse período e aí que surgiram as competições online, via Instagram. O surfista profissional Petterson Thomaz e o produtor Guilherme Guenther organizaram o primeiro Campeonato Brasileiro de Aéreos, o CBA. Como já diz o nome, o CBA é um evento inteiramente dedicado aos aéreos. As inscrições vão até a próxima sexta-feira (14) e podem ser feitas através do link. O Cutback conversou com um dos idealizadores do CBA, o free surfer Petterson, que falou tudo sobre o evento - organização, expectativa, etc. Além disso, ele conta um pouco da sua trajetória no esporte, da sua migração do surf competição para o free surfer, o papel da produção áudio-visual no seu trabalho e mais. Confira! Cutback: Primeiramente, o Cutback queria parabenizá-lo pelo iniciativa de um evento tão importante para manter os atletas em ritmo de competição, mesmo que seja virtual. Como foi a ideia até a realização do Campeonato Brasileiro de Aéreos (CBA)?
Petterson: Agradeço o convite para estar falando sobre o CBA Surf, que é o campeonato brasileiro de aéreos online. O primeiro campeonato online da forma que vai ser, através de uma plataforma, de um quadro de juízes do convencional. A ideia surgiu através do Guilherme Guenther, ele foi o cara que abraçou a ideia toda por trás e veio me dar um toque, se eu queria me envolver, se eu queria fazer acontecer com ele e eu por ser um cara que sempre gostei muito do surf progressivo, sempre buscar evoluir nesse meio né, sempre estar atento a todos os detalhes desse mundo. Eu abracei a ideia e levei para os meus patrocinadores. A Oceano e a Soul Fins são os primeiros patrocinadores a abraçarem a ideia, então através disso conseguimos dar o pontapé inicial e daí dar início ao projeto. Enfim, surgiu mais ou menos assim dessa forma, principalmente por causa da pandemia, de tudo que está rolando, dessas adequações e tudo mais e também para ser uma forma de valorizar o surf brasileiro, o surf progressivo e mostrar o que essa nova geração, o que essa galera toda tem feito. E enfim eu trabalho muito com mídias, imagens, vídeos imagens, fotos e tal. E esse campeonato é uma maneira de valorizar essa galera que trabalha por trás do surfista: o fotógrafo, o videomaker, porque os videomakers que forem para a final também terão premiação, então essa é meio que a ideia, valorizar quem produz e faz o surf acontecer no Brasil.
Cutback: Aqui na nossa área, que é o interior do Rio de Janeiro, tem surfistas e não surfistas falando do CBA. Você já tem noção do tamanho que a sua iniciativa tomou?
Petterson: Cara, a gente não tem muita noção, porque tanto eu quanto o Gui somos aqui do Sul, em Santa Catarina. A gente não tem tanta noção assim da repercussão com o CBA Surf, porém a gente sentiu um pouco devido aos inscritos. Foram vários inscritos de diversas partes de Brasil, se não me engano o primeiro inscrito foi o Thiago Arraes, que é aí do Rio de Janeiro. E essa que era a ideia mesmo, fazer com quepessoas de diversos lugares do Brasil, de Norte a Sul, participassem sem ter o custo de ir até o nordeste, ou até o sul ou até onde fosse ter o campeonato presencial. Então essa que era a ideia mesmo, repercutir no Brasil inteiro, e a gente até agradece as mídias que estão divulgando e vocês que estão divulgando também, o Most, Waves, várias plataformas divulgaram o nosso campeonato, só tenho a agradecer! E a inscrições estão abertas até a próxima sexta-feita dia 14/08.
Cutback: O evento está só no início e estamos vivendo um momento atípico, mas a ideia do evento do CBA é sair do online e se tornar "presencial"?
Petterson: Cara, Sim! A ideia do CBA Surf é valorizar o surf progressivo brasileiro, valorizar essa cena dos aéreos e principalmente vaolorizar quem faz o surf acontecer no Brasil, tanto os videomakers que vão estar filmando essa galera quanto os próprios surfistas. Então a ideia é sim fazer o evento evoluir, inclusive a gente já deu entrada no registro de marca do CBA Surf, até porque tem vários produtos sendo feitos com base nesse nome, na nossa logo e a nossa ideia para o ano que vem é continuar com o evento online de alguma forma e inclusive ter um circuito até que envolva uma parte online com uma parte presencial. A gente não sabe ainda direito o que é que vai ser, como vai ser, mas a gente tem ideias e a gente quer sim fazer acontecer o evento de forma presencial também.

Cutback: Saindo um pouco do campeonato. Para a galera que não te conhece: quem é Petterson Thomaz? Qual a sua trajetória no surf?
Petterson: Petterson Thomaz é um free surfer apaixonado por surf, um cara que gosta muito de viver o que ele vive e está todos os dias em contato com a natureza. Sempre costumo falar isso, quando não estou no mar, quando eu não estou dentro da água treinando ou produzindo, eu estou fazendo alguma coisa fora da água que vai me proporcionar tempo de qualidade maior dentro do surf, que é sempre fazendo edições de surf, botando meus vlogs. Toda semana eu boto um vlog que mostra o meu dia-a-dia no ar, toda segunda-feira às 20h que eu posto esse conteúdo, então tudo que eu faço na minha vida assim é pensando no surf. E poder estar surfando o máximo que eu possa e estar conhecendo outros lugares através do surf e também para poder ter um sustento através do esporte que eu acho que a minha geração ali foi um geração de virada, que abriu outras possibilidades dentro do esporte e realmente se profissionalizou. A geração pós o Mineirinho, a gente conseguiu ter realmente um campeão mundial, conseguiu ter um suporte de marcas que apoiassem o esporte e mostrassem que é realmente uma profissão. E claro, a gente deve muito as gerações que vieram antes Peterson Rosa, Fabio Gouvêa ou antes ainda: Picuruta. Porém, no Brasil eu acho que o surf virou um esporte mais profissional ali a partir da profissionalização e das conquistas que o Mineirinho teve, que a galera começou a enxergar. Então, através disso, hoje eu vivo do free surf, fazendo conteúdo, fecho contratos com as marcas de geração de conteúdo também e através do meu lifestyle (meu estilo de vida) eu tento influenciar pessoas. E enfim,vender produtos que eu uso e que eu gosto, porque não divulgo quem eu não gosto e através disso mostrar o meu trabalho. É uma roda, uma roda que tem que girar. A marca investe, o surfista (atleta) tem que dar um retorno e é isso que eu faço: boto as marcas em lugares que elas não estão, demonstro elas e os produtos delas nas minhas próprias mídias e faço a marca se envolver com meu lifestyle e estar dentro do lifestyle surf que eu vivo e mostro toda segunda-feira 20h dentro do meu vlog. Assim como todo mundo que é profissional no mundo do surf, eu vim da competição. Desde os meus doze anos eu comecei a competir pesado, sou da geração ali do Alejo Muniz, do Ricardinho dos Santos e com doze anos fui vice-campeão catarinense infantil, que é até doze anos. A partir dali comecei como amador, nas duas categorias seguintes eu fui campeão catarinense(mirim e Junior), daí quando fiz 18 anos fui para a Europa e morei seis meses por lá, trabalhei para caramba também, fiz várias coisas, dei aula de surf. Cheguei a ganhar duas etapas do circuito europeu Pró Junior, na época o Pró Junior era até 21 anos e para mim foi muito massa. Voltei pro Brasil e falei “cara é a hora de fechar um patrocinador bom e começar a competir”, tipo WQS, Pró Junior por aí a fora. E quando eu voltei pro Brasil acabei não conseguindo nenhum patrocinador e na época faltou amadurecimento para lidar com a situação. Eu meio que abandonei tudo assim, peguei e falei “cara, não vou mais ficar indo atrás, estou gastando meu dinheiro todo, não estou tendo retorno”, porque tu sabe que quem compete gasta muita grana para estar indo de um lugar pra outro, inscrições e tudo mais. E daí eu peguei e enfim voltei pro Brasil, entrei na faculdade, comecei a trabalhar com meu pai no comércio e partindo dali eu vi que realmente tava inserido fora do mundo do surf, comecei a ficar bem mal assim e depois de três ou quatro meses trabalhando com meu pai e fora do surf, eu queria fazer alguma coisa para voltar para o mundo do surf.
Comecei a fazer uns vídeos e editar, na época eu já mexia com câmera, computador e tudo mais, e daí eu fiz alguns vídeos e apresentei lá na Oceanum (meu patrocinador atual) e eles falaram “a gente quer um cara que faça vídeos aqui e tal, seria interessante você entrar no time como videomaker”. Na verdade não foi bem assim, eu ofereci o vídeo, ele queria comprar o vídeo, aí eu peguei e falei “cara, eu não quero que tu compre o vídeo, quero que tu fale com o empresário (o Afonso, que é o dono da marca), quero que me de oportunidade de fazer parte da tua equipe, eu vou te entregar os vídeos, mas eu quero ser atleta”. Assim minha história foi sendo escrita na Oceanum e já estou há mais de 10 anos no time, e hoje eu entrego vídeos e muito conteúdo maneiro através dos meu vlogs, através das viagens, através de tudo que eu faço. E para mim é sempre um prazer fazer parte de uma marca catarinense, uma marca de Joinville que é a mesma cidade onde eu moro e nasci, sou natural. E basicamente é isso, sobre a minha trajetória tem muito mais coisas, muitos mais passos e na época que eu comecei a fazer os vídeos eu tinha um blog hoje em dia mudou totalmente a parada, o Instagram e o Youtue, as ferramentas mudaram, mas a forma de trabalho é até parecida.

Cutback: Qual o planejamento para a sua carreira no momento? É ser free surfer, competidor... ?
Petterson: Eu planejo fazer meu canal do Youtube crescer bastante, melhorar essas produções que eu faço e evoluir também no surf, evoluir nos tubos que é uma coisa que eu gosto muito e acho que dá para aprimorar muito viajando mais e estando em lugares com ondas melhores e maiores, quero mostrar isso dentro do meu lifestyle, dentro dos vlogs através do Youtube e melhorar isso também. Começar a agregar valor para as pessoas, um pouco mais, não só mostrar o surf, começar a mostrar também um pouco das dicas, um pouco do meu conhecimento que eu adquiri ao longo desse tempo e cara minha ideia na verdade como planejamento é inspirar as pessoas a fazer os que elas amam porque foi assim que eu consegui chegar onde eu cheguei hoje. Muitas vezes fazendo outras coisas até que não era só surfar, mas que era preciso ser feito, uma edição, uma capitação, enfim coisas ali no mundo do surf para poder ganhar um espaço e poder crescer e basicamente meu planejamento é esse cara; É viajar muito mais, filmar muito mais, produzir muito mais e me envolver em projetos como o CBA que enfim agregue valor para as pessoas, para o surf brasileiro e para as marcas que investem no surf brasileiro e no meu trabalho.
Cutback: Tu já surfou em ondas do Rio de Janeiro? Saquarema, Arraial do Cabo... alguma dessas cidades? Petterson: Já surfei várias ondas do Rio de Janeiro, no Rio mesmo já surfei em várias: Prainha, Recreio, Macumba, enfim. Saquarema já fui várias vezes também, campeonatos e tudo mais, já peguei mares bem grandes ali e enfim é uma onda bem pesada, eu gosto bastante desse lugar. Arraial do Cabo eu não conheço muito bem, nunca fui. Na verdade eu gostaria de ter indo bem mais para o Rio, de ir muito mais constante, eu tava indo basicamente uma vez por ano quando tinha o Minks Festival, aquele festival de filmes de surf e skate que eu sempre tava envolvido, tendo filme meu ou tendo amigos que tinham filmes com participação minha. Esse ano não deu, devido a pandemia, aí parou tudo e enfim vou deixar para ir no Rio mais para o final do ano ou ano que vem, só se rolar evento ou alguma oportunidade legal.

Cutback: Como está sendo o isolamento social? Tem treinado, estudado, surfando, ficando com a família...?
Petterson: Cara, o isolamento aqui em Santa Catarina foi bem tranquilo, passamos duas ou três semanas bem isolados mesmo, sem sair de casa basicamente, até que as praias abriram. Eu tenho conseguido surfar e produzir dentro dos cuidados e normas que cada cidade tomou. Na verdade foi até bom assim para mim, não posso reclamar, sei que tem muita gente que passou por dificuldade na pandemia, mas pra mim foi até bom porque eu consegui produzir dentro do meu estado, consegui trabalhar e apesar de alguns salários terem reduzido devido a pandemia, crise e tudo mais, eu só tenho a agradecer por ter a oportunidade de fazer tudo que eu amo e enfim ter dado continuidade para o meu trabalho.
Eu sei que tem muita gente que não conseguiu trabalhar devido a pandemia e é uma situação bem complicada, bem difícil. Então o isolamento eu aproveitei para estudar bastante, eu gosto bastante de estudar tanto a parte de marketing digital, de vídeos e todo esse universo como também estudar técnica e aprimoramento de surf. Eu sou um cara que normalmente não sai a noite, então para mim foi bem tranquilo, assim não sofri muito com o isolamento, com a pandemia, até porque acabei ficando bem mais com a família, viajando menos, quase nada, só pra surfar aqui no estado mesmo e é isso. Acho que trato meu isolamento de uma forma positiva, sabe? Eu consegui ganhar muito mais, apesar de não ter viajado, apesar de alguns salários terem diminuído, mas eu consegui ganhar muito mais e tirar um saldo positivo disso tudo.
Cutback: Conta pra gente um perrengue que você passou em algum mar.
Petterson: Acho que foi quando era moleque, era bem pequeno, devia ter uns 12, 13 anos. Eu entrei no mar no Ervino que é uma praia aqui do lado, o mar não devia estar tão grande, mas tinha um tamanho e eu era muito pequeno e não tava acostumado com essas ondas. Eu entrei no mar e lembro que não olhei direito o tamanho que o mar estava e quando eu me vi estava lá dentro. Meus dois tios estavam lá dentro também pegando altas ondas, altos tubos e eu lembro que não conseguia sair do mar. Até que comecei a chorar e falei: 'como é que eu vou sair? Como é que eu vou sair?'. Daí um amigo meu falou 'tu vai ter que pegar uma onda' e ali foi legal que eu consegui vencer um desafio e ao mesmo tempo foi um perrengue e tanto. Até chorei na água e enfim foi um perrengue bom pra mim, um desafio bom de vencer e eu acabei conseguindo sair do mar, conseguindo me superar e até então acho que o surf é muito disso assim. Tu está se vencendo diariamente, está se desafiando e conseguindo vencer esses medos e esses desafios e é muito louco porque daí tu não vê limites para parar de evoluir. Então eu posso estar com 50 anos e posso estar que nem ao Kelly ali, com menos flexibilidade que o normal, não que o Kelly tenha menos, o Kelly parece que ganha mais flexibilidade, mas posso está me desafiando em ondas maiores, mais tubulares e adquirindo experiência também. O surf é um desafio constante e diário em busca da evolução. Acho que esse que é o grande lance, sem dizer que eu ta lutando ali diariamente com a natureza também. Está conquistando seu espaço conforme a natureza deixa tu construir seu espaço e vencer esses desafios, porque tu depende do mar, do tempo e diversos fatores pra estar na água ali surfando na condição específica.
Comments