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Cláudio Japão: uma lenda do surf de Cabo Frio

Peço licença para a técnica jornalística e me dou ao luxo de escrever esse texto como o Lucas D’Assumpção. A edição de hoje é especial por se tratar de um ídolo de infância. Luiz Cláudio Campos Peixoto - conhecido como Japão – é um dos surfistas mais antigos de Cabo Frio e que me encantava desde moleque. Pão – como eu o chamo – sempre foi uma espécie de “senhor das ondas”, sempre sabia quando teria onda e quando iria chover. Isso me encantava. Nas sexta-feiras estava lá eu: “Pão, quando vai ter ondas?”.


Antes de eu começar a surfar já o via com a sua Rusty indo cair. Sempre surfou em mares grandes com o mesmo estilo e força. Goofy, Pão sempre me chamou a atenção pelas suas esquerdas na vala da Vila Nova, o seu quintal de surf. Fominha por ondas, na moraria das vezes o vi caindo em picos sozinho, atrás das melhores. Junto com o saudoso Márcio Boca, criou bordões clássicos dos surfistas na cidade.


“O mar subiu você sumiu. O mar desceu, você apareceu”, uma das frases que mais lembro dele falando. Japão é uma das lendas de Cabo Frio e sempre foi uma honra surfar ao seu lado. Aos 55 anos, Pão exala classe e radicalidade. Tive o prazer de entrevistá-lo para o Cutback, que contou sobre a sua trajetória no esporte. Confira!

Esquerda da Vila Nova e vraauu. Foto: Acervo Pessoal

Cutback: Quando você começou a surfar?

Japão: Meu nome é Luiz Cláudio Campos Peixoto. Meu apelido é Japão e sou nascido em 23 de Maio de 1964. Comecei a surfar em Janeiro do ano de 1976.

Cutback: Alguém inspirou você no início do surf?

Japão: A inspiração vem em cima dos caras que já surfavam àquela época. Quando eu comecei em 76 eles tinham uma diferença pra mim de uns dois anos, alguns de até 3 anos. Eu vou citar alguns nomes: Daniel Gambá, Robson Jacaré, Gilberto Pereló, Miguel Kuri, Carlos Augusto (Gugu), Paulinho Burle, Camilo Burle e vários outros. Naquela época a gente era muito unido, a gente foi fazendo amizade um com outro e tínhamos uma união muito grande dentro d’agua. Hoje em dia é difícil ver isso, mas tem. Eu sei que sua [do Lucas D’Assumpção, repórter] geração tem, até hoje a gente nos respeitamos muito. Um pelos outros, mas a inspiração vem em cima deles.

Cutback: Qual a maior dificuldade que você enfrentou em todo o tempo de surf?

Japão: Naquela época tinha muita dificuldade pra adquirir uma prancha, a gente era muito novo. Eu tinha 12 anos na época e não trabalhava ainda, então não tinha dinheiro para comprar prancha, primeiro você tinha que ficar esperando quem tinha prancha sair da água e te emprestar e muita das vezes a gente ficava três, quatro horas esperando o amigo sair da água para pegar onda. Aí quando os caras saíam da água para emprestar prancha e a gente já estava cansado de esperar e não tinha nem vontade mais de pegar onda, mas ia assim mesmo.

Aí depois que eu arrumei meu primeiro serviço com 15 anos, em 1979, tive minha primeira prancha boa. Mas em Janeiro de 77 eu consegui comprar minha primeira prancha. Mas era uma prancha muito feia e ruim, nós colocamos o apelido na prancha de tábua de passar roupa, de tão feia e horrível que era ela, mas foi ai que deu o início. Quando foi em 79 eu já tive minha primeira pranchinha muito boa, novinha, era uma prancha Rico, cavaleta, monoquilha de encaixe e daí pra frente, mermão... foi começando a deslanchar no surf e conseguindo um dinheirinho para ter mais pranchas.

Batida na... esquerda da Vila. Foto: Acervo Pessoal

Teve uma época da minha vida que eu cheguei a ter dez pranchas dentro de casa. Eu falei comigo mesmo que “na época não tinha dinheiro para comprar prancha, agora eu vou entupir isso aqui de prancha”. Mas para gente não adianta ter muita prancha dentro de casa, eu não sou muito de competir.

E na época o surfista era muito descriminado, ia para praia surfar e mamãe e papai não deixavam, era aquela coisa de que surfista era malandro, vagabundo, drogado, entendeu? A gente quando ia pegar onda, colocava as pranchas em cima do carro e sempre tomava dura de polícia. Eles não podiam ver a gente com prancha em cima do carro, que mandava parar e revistava o carro todo e era aquela coisa ruim. E hoje você vê todo mundo milionário com surf, todo mundo quer uma foto com surfista, quer ter aquela imagem pra ficar gravado ali porque os caras hoje estão demais no surf. Os brasileiros estão arrebentando e tem uns caras aí que ficaram milionários com o surf que era diferente da nossa época.

Cutback: Você já competiu?

Japão de joelhos, de camisa preta. Foto: Acervo Pessoal

Japão: Então, como mencionei, eu nunca fui de competição, eu gostava mais do free surf, que as dificuldades eram muitas. No caso aqui de Cabo Frio, quem levou o nome da cidade para frente foi Miguel Kuri, Carlos Augusto (Gugu) e o Márcio Boca. Márcio Boca teve mais dificuldades ainda, o Boca foi mais na garra, na cara e na coragem e mostrando o que tinha mesmo dentro d’agua e os caras já tinham uma condição a mais, eles tinham patrocínio, conseguiam viajar para fora nos campeonatos e lavaram nosso nome aí para frente.

Depois veio Vitor Ribas, né, cara, que foi campeão mundial em 1997 e botou o nome de Cabo Frio lá no alto do pódio. E esses caras aí tem que agradecer a eles, pelo que eles fizeram pela nossa região. Mas a minha melhor colocação em um campeonato foi um quinto lugar. Eu competi aqui em Cabo Frio, Arraial, mas nunca saí para fora, então minha melhor colocação em um campeonato de surf foi um quinto lugar.

Cutback: Em sua opinião, o que falta para os talentos locais irem para frente?

Japão: O mundo do surf hoje está muito competitivo. Então, para esses talentos locais irem para frente, po cara, tem que ter muita garra, determinação e força de vontade. Muito treino, bom patrocinador, se o cara for de filho de família que tem condição pode ser injetado pela própria família, mas atualmente o cara tem que ter um bom patrocinador, um preparador físico e muita garra, determinação e força de vontade. Se não fica difícil para você competir hoje é doideira. Os caras entram na água com sangue nos olhos mesmo, para ganhar. Então, ficou muito difícil isso aí, né cara. Mas eu desejo a eles aí, saúde, paz, alegria, para eles continuarem a trajetória deles dentro d’agua para eles conseguirem alguma coisa.

Cutback: Qual a melhor onda da Região dos Lagos?

Japão: Em quanto as ondas da nossa região aqui, todas elas são boas, mas a onda mais forte que temos é a Praia Brava de Arraial do Cabo, depois a Praia Grande ali e a restinga de Massambaba [Monte Alto], onde nós encontramos as melhores ondas, mais potentes, mais perfeitas e com mais frequência. É nesses três lugares ai que eu te falei. Mas, as ondas nossas são muito boas, tem uns picos nossos ai que... a nossa Praia do Forte aqui tem altas ondas, quando da onda, Ilha do Pontal, praia da Rasa, Brava de Cabo Frio, Geribá, Tucuns, Meio do Peró, lá no meio do Peró antigamente na década de 80 era tubo largo que a gente pegava lá, então a gente as vezes até reclama das ondas que a gente não tem, mas as nossas ondas aqui são melhores do que muitos outros lugares por aí a fora.

Vou deixar um abraço grande aí pra todos os surfistas da nossa região e que vocês continuem sempre dentro d’agua aí pegando onda que nós somos surfistas de alma, né cara. O surf corre dentro de nossas veias, então a gente nunca vai deixar de surfar.

 
 
 

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